sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Coluna Ouvidosnegros - Novo de novo

Coluna de um ouvinte dedicado da música negra. Aquela... que pariu o rock que forjou o metal pesado com que se fez – bem no centro do que é rápido e visceral - o som feito morte, feito pancada, feito demônio, feito lixo, feito tristeza que nos fez e nos faz ficar batendo cabeça pelas quebradas.

Novo de novo

Por Estéfani Martins
opera10@gmail.com
sambluesoul.blogspot.com
idearium.com.br

Versões de músicas consagradas já proporcionaram a humanidade momentos únicos tanto de horror tacanho e descartável como de prazer estético incomparável. Exemplificam a primeira tradição, as versões de gosto duvidoso de sambas históricos assassinados pelas interpretações de Emílio Santiago e Simone. Do outro lado, merecem honrosa lembrança as muitas versões inspiradas de velhos blues interpretados por bandas como Rolling Stones, Canned Heat, Cream, etc. Outra lembrança imediata é a versão do clássico “Maracatu atômico” do trovador moderno Jorge Mautner orquestrada pela banda símbolo do manguebeat Chico Science e Nação Zumbi, ou ainda a versão de “Bullet blue Sky” do U2 feita com a dureza e a potência do Sepultura, que, aliás, deu mais consistência à música do que seus autores conseguiram. Vale lembrar também as versões do Metallica feitas pelo ótimo quarteto Apocalyptica, especialmente a já antes belíssima “Fade to Black”, que ganhou uma versão irretocável, sem dizer nas versões arrebatadoras de “Master of Puppets”, “Seek and destroy”, entre outras. Outro grande momento em que músicas já excelentes foram reinventadas por obra de gênios como Elis Regina e Hermeto Pascoal foi no Festival de Montreaux, em 1979, quando eles deram cores novas a clássicos da música brasileira com interpretações maravilhosas e no improviso de “Corcovado”, “Asa branca” e “Garota de Ipanema”.
Sobre o mesmo tema, sempre ficava desconfiado de versões que muito modificaram especialmente o estilo original da música, mas tenho ficado surpreso com pancadas como “Killing in the name of” da sempre saudosa banda Rage Against the Machine, reinterpretada pelo inventivo grupo The Apples; ou “War Pigs” e “The Wizard” do eterno Black Sabbath, ou a quebradeira total do clássico “Moby Dick” do Led, ou ainda “Crostown traffic” do deus Jimi Hendrix e “Helter Skelter”, do álbum branco dos Beatles convertidas em petardos funk pela excelente e criativa banda Bonerama.
Enfim, versões ou regravações são formas de sentirmos novidade no que se imortalizou pela qualidade e pela atemporalidade e, assim, ficamos com dois ou mais olhares sobre uma mesma obra. Claro que isso pode também servir como caça-níqueis ou mesmo como “solução” para a falta de inspiração sempre a espreita até de grandes bandas. Entretanto, esses são os riscos necessários de se lidar com a novidade, especialmente quando o novo visita a maravilha dos velhos e monumentais long plays na estante.

Estéfani Martins, professor de Redação e Atualidades do INEICOC, coordenador da CCCult, produtor cultural, gaitista amador, palestrante nas áreas de cultura e multimeios.

Observação: esse artigo foi originalmente publicado no zine Páginas Vazias (www.paginasvazias.com.br)