Andar do gato
fuga do rato
vida num ato
imediato.
Não há indefinição quando a fábula é transformada em fato.
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sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Samba massa
Para o amigo
e mestre Antônio Sacco.
Sem um breque, sem desordem
O samba não
embala
Verdade seja
dita, o samba povoa o povo
O samba é
massa.
Samba é
massa
É trapaça, é desgraça, é graça
É feito uma
alegria, é hemorragia
Que dá e
passa
Passa breve
Passageira
Passarada
Para em
fevereiro voltar
Samba raro
que desfila
Na praça
Sem pudor
Samba da raça
É a voz e o pedido
De um bloco deliciosamente pecador.
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Minha crença
Não sei honestamente no que acredito, sei, bem, no que não acredito. Essa é minha crença, estar seguro sobre no que não devo crer, seguro sobre o sentimento que não quero sentir, seguro sobre a água da qual não quero beber. Nesse sentido, considero-me um crente ciente de que crer é uma forma cega de ver. Tenho sincero receio de crer, prefiro a segurança daquilo que não é crença.
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sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Da série: afirmações inconvenientes X
O fim não é mais aquilo que pensávamos no início.
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Da série: afirmações inconvenientes IX
Deus é o verdadeiro diabo do homem.
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Da série: afirmações inconvenientes VIII
A felicidade é um remédio para ela mesma, especialmente para os efeitos prolongados dela.
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Da série: afirmações inconvenientes VII
No dia que os alunos acordarem, não haverá construtivismo que reconstrua o
que será destruído.
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Da série: afirmações inconvenientes VI
A fé move montanhas das quais, muitas vezes, precisamos para olhar mais longe e mais alto.
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Da série: afirmações inconvenientes V
Cada
geração merece o apocalipse que para si mesmo cria.
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Da série: afirmações inconvenientes IV
Dinheiro
é ótimo quando é muito, mas é sempre pouco.
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Da série: afirmações inconvenientes III
Ontem acordei cedo quando já era tarde.
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Da série: afirmações inconvenientes II
Na política, à direita e à esquerda só vejo seres sinistros.
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Da série: afirmações inconvenientes I
Eu bebo para tornar as pessoas mais interessantes e a vida, suportável.
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sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Temporal
Tirei o tempo
Mais que uma contagem
Mais que uns segundos que passam céleres
Tirei o tempo
Tirei
Tirei essa amarra arquitetada, engendrada nas entranhas
de uma engregnagem
Por um momento apenas
Mas tirei
Tirei o contar matemático da existência
Substitui por prosa
Sem tempo
Sem hora
Sem nada
Só prosa
Dessas bobas, perda de tempo.
Enquanto isso, na catedral
O relógio impõe apressado um tempo mais veloz que a mais
veloz das luzes.
O tempo, o tempo, temporal, é um escuro e tenso irmão que
se alimenta dos nossos contratempos.
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sábado, 1 de março de 2014
De quem é a culpa?
O nosso tempo é o da diluição, é o da vida em rede, é o da mobilização social espontânea e instantânea, é o tempo das reivindicações inocentemente apartidárias, das decisões políticas do judiciário. Neste contexto, entendo a necessidade de me posicionar - e de todos - diante do que parece mais afligir a todos nós atualmente: a violência social do fundamentalismo e da política aética. Há um grande risco que essas forças representam para a democracia, a liberdade de expressão, o respeito e a tolerância em relação à diferença e à diversidade, o Estado laico, o direito à manifestação e a liberdade de imprensa.
Sobre as razões para tudo que nós temos vivido de bom ou ruim nos últimos anos ligados a manifestações especialmente, é importante entender que Black Blocs, mortes violentas, destruição repetida de patrimônio público e particular, etc., são antes de tudo produto do imobilismo político; da incapacidade dos Governos darem respostas às muitas críticas da maioria da população à qualidade precária dos serviços públicos; dos gastos faraônicos com a Copa e com a Olimpíada; da impunidade que impera em nosso país explicada muito bem pelo dinheiro que corrompe "silenciosamente" nosso sistema político; etc. Além da crise gravíssima de representatividade que impede a construção de uma vida política positiva e plenamente democrática em nosso país. Todavia, nada disso justifica os mortos e os feridos que se somam entre alvejados por rojões; os atropelados em fuga da violenta repressão policial; os acometidos pelo gás lacrimogênio, pelas balas de borracha ou pelas bombas de efeito moral; os feridos em cumprimento de ordens e o trabalho de policial por vezes correto que é solapado pela truculência calculada politicamente da repressão governamental.
Somos, ao meu ver, todos vítimas na verdade de uma elite econômica e política que não tem mais lugar no Brasil, não por conta da romântica ascensão de uma esquerda "revolucionária" que jamais esteve no poder no Brasil e jamais estará, mas por ser uma classe que parece incapaz de responder aos anseios mínimos da população e tampouco ainda calá-la por meio da repressão ideológica, institucional, velada ou mesmo policial. A elite que comanda o Brasil é um anacronismo ambulante e de mau gosto, uma oligarquia saudosa de tempos mais “fáceis” quando as cidades eram bem divididas entre os ricos e os pobres que moravam bem distantes uns dos outros, que locais públicos como "shoppings" não eram tomados por “rolezinhos”, que aviões eram um meio de transporte de luxo, que seus bairros estavam livres da "gente diferenciada", etc.
Dessa maneira, não desresponsabilizo o cidadão que escolheu acender um rojão que matou um cinegrafista trabalhando, não defendo Black Blocs como se fossem uma expressão legítima da revolta do povo e não defendo a PM em ações nas quais atua de forma indiscriminada e violenta de acordo com a herança repressora de outros tempos. Por outro lado, entendo que não se deve simplificar a complexa situação social de nosso país com juízos maniqueístas, pouco informados e fundamentalistas por parte de certos veículos de comunicação, de grupos extremistas em redes sociais, de conversas de bar movidas por toda sorte de preconceitos, etc., que nada contribuem para que o Brasil seja de fato um país democrático, laico e justo socialmente.
Estéfani Martins
Professor
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