quarta-feira, 25 de julho de 2007

Homenagem ao grande batera Dom Um Romão

Há pouco tempo foi para o palco de cima um dos maiores bateristas da história musical brasileira, Dom Um Romão, um dos principais caras do que se chamou, com razão, de samba jazz. Ele foi seguramente um de seus inventores junto a outras figuras extraordinárias do brilho de J. T. Meireles e Moacir Santos, entre outros bambas. Vale a pena ouvir o som maravilhoso de suas baquetas, como a já "arroz de festa" Telefone. Obra de arte. Por aqui o mundo fica mais calado, já lá em cima Monk, Mingus e outros fenômenos comemoram, a banda agora está completa.

Salve o samba, salve a batera de Dom Um Romão!

Estéfani Martins ouvindo Muddy Waters (LP responsa com direito a chiadinho e tal) Rare and Unissued, bolacha maravilhosa que um norte-americano figura, aqui perto de casa, descolou para mim.

Um dia comum

Acordei hoje, como quase sempre, as 5 da matina, para viajar. Outra cidade, outras pessoas, mas a mesma sensação de estar fora do lugar. Sei que muitos sentem a mesma sensação inconfessável de não pertencer a lugar algum ou mesmo pertencer a um lugar diferente e desconhecido mesmo de você, que é filho legítimo dessa pátria sem nome e sem bandeira. Em dias como esse, comum como um cafezinho na esquina, que qualquer um pensaria o sentido disso tudo - não quero parecer filosófico, menos ainda metafísico - mas o sentimento é esse mesmo, para que submeter-se a uma lógica que te apressa a morte e lhe rouba o sonho. Eis o grande dilema humano, o de explicar esse tempo, por vezes, besta que é a vida.

Estéfani Martins, ainda inacabado como um bom jazz, que vai se lapidando nos ouvidos atentos de quem o degusta

Post da época do nascimento da Isadora

Depois de longa e tenebrosa ausência volto à vida dos blogs, justificadíssima por essa garota que muito orgulha esse pai que adora falar de música e de cerveja, mas viu a responsabilidade pesar e, por isso, saiu de férias desse blog para ajudar a cuidar dessa criatura maravilhosa que deu mais brilho ainda para nossa casa. Parece piegas dizer que é uma mudança e tanto, mas é...um baque de responsabilidade e de amor incondicional. Nunca pensei que diria isso, entretanto ter uma filha numa casa como a minha, que tem gerado um espaço bacana para ela se desenvolver, tem sido a experiência mais fantástica da minha vida, que tem me feito repensar muitos valores que eu julgava prontos e acabados. Enfim, ter um filho é uma "explosão súbita num dia longo", é penoso, é preocupante, porém é único e é bom.
De volta a um dos temas preferidos deste blog, tenho colocado para Isadora ouvir muitos sons que eu chamo de "Cartilha sonora para Isadora", dentre eles destaco:
O jazz do Miles, para que ele veja que mais é pouco quando o assunto é arte.
As novidades do Gismonti, mundo novo e complexo para ouvidos inexperientes.
O baque da Nação, para por ritmo num mundo desritmado.
Enfim, de volta e acompanhado por duas belas mulheres e mil novos sons....
"Feh"
Estéfani Martins
Dezembro de 2006

Homenagem aos amigos 'negros'

O mundo não é só do Blues e do Jazz. Essa constatação tão óbvia só aprendi há alguns anos, quanto tempo sem ouvir Cartola, João Nogueira, Clementina, Clara Nunes, Noite Ilustrada, Carlos Cachaça, Pixinguinha, Candeia, Jovelina, Batatinha, Aniceto, Originais, todas as Velhas Guardas, Sinhô e tantos mais que tenho tido o prazer de ouvir graças aos muitos amigos e amigas responsáveis por me fazer "olhar para dentro" e ver, finalmente e sem me cegar para as minhas mais antigas paixões, aliás...complementando-as, a riqueza e a beleza indelével do Samba e de seus pais, além, evidentemente, de suas valiosas vertentes: o sambalanço, o samba rock, o samba jazz, etc. Muito obrigado amigos, por terem me guiado nos primeiros passos incertos de ouvinte sambista dedicado.

Obrigado aos mestres Rogérão e Flávio Melazzo pelas aulas dadas nos encontros mágicos e únicos dos Engenheiros do Samba, nos quais aprendi a quase enganar as pessoas com a minha pretensiosa paixão pelo tamborim(peço perdão ao mestre Walter Alfaiate pela blasfêmia). Obrigado especial ao mestre Antônio Sacco, pelas conversas móveis sobre o samba e seus deuses, aprendi muito e estudo para poder ajudar como você ajudou-me(Salve Sinhô!). Um obrigado também a amiga e tia Valéria, pelas valiosas aulas de sensibilidade para as “coisas” brasileiras e sobre o universo folclórico da música nacional. Um agradecimento coletivo à musical família Melazzo, que nos pagodes na casa do grão mestre Dozinho fizeram sempre o que melhor sabem – tocar apaixonadamente e com honestidade estética - sem concessões ao fácil e ao vulgar.

Num ritmo mais cadenciado de samba-canção, agradeço a minha amada esposa Camila por ser também do samba e dos pagodes, por ajudar a fazer, cada vez mais, a nossa casa um espaço aberto aos tantos amigos amantes da música que em nossa sala passam muitas noites ouvindo os cantos negros de outros tempos e bebendo em sua homenagem.

Finalmente, um agradecimento ao meu pai Carlos Alberto Martins, o “Carlão”, figura eclética e apaixonante que me abriu, de forma generosa e não autoritária, as comportas desse rio que é a música ao som dos sambas da infância e das conversas sobre jazz e música instrumental brasileira na adolescência. Aqui, o reverencio como mestre entre os mestres, porque sem ele não poderia ter entendido o que estaria por vir e o que ainda virá...

Dedico este texto, numa última nota, ainda que triste, para o amigo, que não me conhece, Rodrigo Brandão do programa Vitrola Invisível, no site do selo Instituto, que acabou de perder a filha Tereza e que muito tem me ensinado nestes últimos tempos sobre a santa e profana música negra. Caro “amigo”, muita força e paz para você.

Estéfani Martins, ouvindo o programa “Adeus Teresa... John Coltrane, A Love Supreme”

Junho de 2005

1. John Coltrane - "Part 1 - Aknowledgement"

2. John Coltrane - "Part 2 - Resolution"

3. John Coltrane - "Part 3 - Pursuance"

4. John Coltrane - "Part 4 - Psalm"

http://www2.uol.com.br/instituto/vitrola_110.htm

Solo

Para Hendrix

Baixo. Bateria. Piano. Trompete. Banda de Jazz. O baixista era um solista inspirado. Espetaculoso. Até que a banda o abandonou. Todos então seguiram carreira solo.

Estéfani Martins visitando Eletric Lady Land

Ontem

Ontem, ouvi a beleza de Baden entre os acordes negros do seu violão. Ouvi os afrosambas, saí em fúria da alma que guardo nas grades do tórax.

Estéfani Martins, ouvindo o próprio Baden ao vivo em Montreaux, essencial.

Jam

Era meio dia. Um garoto chamou os amigos para fazerem um som em casa. Nessa hora elíptica, não há jazz que suporte as luzes e a sobriedade dos almoços em família. Cada um dos garotos deu-se bem na vida: um foi médico; o outro, paciente; um terceiro virou radialista e o derradeiro tornou-se DJ, para poder tocar sozinho um conjunto.

Estéfani ouvindo Portishead

Samba sísmico

Ao mestre Rogerão dos Engenheiros do Samba

Numa roda de samba, uma mulata perfeita orbitava feito lua em torno de um planeta feito de bambas. Breque no samba. A mulata parou e, na Terra, uma catástrofe. Uma onda colossal, única, varreu o morro.

Dez séculos de reconstrução dos sambas, das rodas, das misérias, da ginga. Mais uma vez o divino samba ganha o profano povo. E um sucesso toca nas rádios na cadência cardíaca das rádios orgânicas: "Quem confia em maré, mané jaz é"

Estéfani Martins e o silêncio

Desfile impecável

A passista, negra noite fêmea da favela, deslizava linda no sambódromo. Êxtase de carnes. Profusão de líquidos. Escorregou. Surpreendentemente, bela ainda estava na horizontalidade, contudo vertical era mais imperiosa. Feito as rainhas negras das tribos negras da negra África...Suspense...suspenso. Levantou-se. Saiu...man-can-do. Antes de negra imperiosa, é bela porque é falível, é humana.

Estéfani Martins ao som do mestre Paulo Moura

Aqui, Jazz


Era um bêbado desses comuns, que parecem parte da nossa família que dorme pelos alpendres e calçadas de nossas casas. Num tempo que o gin apagou, era um grande trompetista. Caiu em desgraça na ocasião em que foi a um dentista e se apaixonou por ele. Justo quando ele arrancava o seu siso. Como naquele tempo, esse era “o amor que não ousa dizer o nome”, como bem disse Wilde. Ele foi seguidamente ao dentista, que arrancou-lhe todos os dentes, por respeito a uma desculpa muito bem engendrada, sem, contudo, perder algumas desconfianças. 

Quando não lhe restavam mais dentes e seu trompete era bailarina bêbada em boca movediça. Pulou, num salto solo, da cadeira de prazeres daquele consultório quase alcova. Sua queda tinha como alvo o motor que dava força aos instrumentos do homem. Encontrou seu ocaso. Estava à procura de dentes. 

VS e Cecil Taylor ao piano

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Agradecimento ao mestre Alan Lomax

Negro foi o dia que te perdemos
Negro foi a desesperança que se instalou entre aqueles que você eternizou
Claro foi o dia que você encontrou aqueles negros.

VS

domingo, 1 de julho de 2007

Conversa harmônica

Caros amigos,

Em virtude de alguns alunos terem me procurado para que eu os ajudasse a começar a tocar gaita, marquei um bate-papo sobre o tema nessa próxima quarta-feira(04/07/07), na sala Simone Brito, na unidade do INEICOC Ensino Médio, às 17:30; o encontro também acontecerá em Uberaba, nessa quinta-feira(05/07/07), às 15:00h, na unidade do COC terceiro ano e vestibulares.
Espero poder mostrar alguma coisa do que acumulei nesses mais de 10 anos que toco gaita( harmonica), lembro que aprendi de ouvido, por isso não será uma aula, mas sim uma conversa descontraída quando falarei de métodos, tipos de gaita, amplificadores para gaita, microfones para gaita, gaitistas, como usar a internet para aprender sozinho, ou seja, falaremos sobre uma forma de se iniciar sozinho no instrumento, mas já com algumas informações importantes para se aproveitar melhor e mais dinamicamente a cultura da gaita que só cresce em todo o mundo.

Abraços harmônicos,

Estéfani, ouvindo as coleções do Alan Lomax - depois eu escrevo sobre esse cara, porque é fantástico o trabalho de pesquisa dele