Tempos de
"solidão povoada" já são ideias de um passado moderno quase romântico
de um Baudelaire flanando pela cidade nova erguida sobre as ruínas da memória.
Transformada em cinema, a modernidade ganhou a velocidade da fotografia em
fuga, presente quase passado revirado pela pressa da vida de alcançar-se e pelo
"homem na multidão" vagando sozinho a procura de alguém que
compartilhe com ele sua solidão.
Ruptura
feita de liberdades, de vanguardas, de tempo convertido em lança. De tecnologia
que engendra a lembrança, de engrenagem que embala Carlitos e encanta o horror
do Álvaro feito de pessoas.
Conhecer
como compulsão convulsiva contemporânea apartada do saber. Saber é luxo num
deserto de elétrons, de tempestades, de vontades e desejos virtuais que se
dispersam no vórtex em que foram criados.
Tempo de
felicidade compulsória e postiça, de "selfies" que envergonham o mais
bobo da mais medieval das cortes, de intimidades tão públicas que o mais
depravado dos seres coraria.
Warhol
estava errado, 15 minutos tornaram-se segundos de fama instantânea e estéril.
Tempo saturado de Sabrinas, de ex-BBBs (sigla quase sentença de morte), de
músicas breves átimos momentâneos feitos de interjeições e preconceitos, enfim,
de nada contaminado de tudo.
Estranhamento
em rede, amigos tão anônimos quanto distantes se acotovelam para ser mais
alguém numa linha do tempo tão fugaz quanto descartável. Parasitas da vaidade
alheia, vermes decompondo os escombros das relações humanas.
Uma nova
identidade que se constrói nas nuvens, distante das mãos e da posse definitiva.
Longe demais de nós mesmos, perto só do outro.
No
imediatismo dos fatos, nasce o factoide fantasiado de fato. Nasce a verdade
filha da repetição. Goebbels, Veja sua filha, ela é a verdade literária,
parcial e passional por convicção. Fatos construídos de repetição, de insistente ficção que corrompe e pare a foto-montagem sampler de uma tradição, de uma oligarquia, morta de medo de ver, de sentir, de se embebedar com a notícia multifacetada, dissecada e plural que insiste em cuspir sua incerteza na cara do nosso tempo.
Tsunami
de excremento, de beleza e de diversidade feito de informação. Combinada, recombinada,
parafraseada, parodiada, citada, aludida, por vezes, fruto proibido e cínico do
pastiche, local de contravenção conectada. Mixagens aradas em bits. A
originalidade do nosso século está na mistura, no amálgama, no fim das
fronteiras. Não há mais novidade, esse é o Graal de nosso tempo. A novidade
padeceu depois das vanguardas, depois das Grandes Guerras, o novo foi
definhando, perdendo o viço. Somos todos adictos procurando mais uma dose que
não mais sacia. O século da imagem matou o novo. O original tornou-se um
sonho inalcançável, um delírio.
O
presente foi entronizado. Tirania feita de agoras. Memórias que cabem na fumaça
fugidia do cachimbo, no etéreo mormaço do calor da velocidade, na presença
do que não mais está.
O fim do
mundo não se aproxima. Os apocalípticos estavam errados. Os sebastianistas
esperaram em vão. Não há salvador, não há redenção. Nosso maior pecado não foi
afirmar que deus está morto, não foi esperar ou mesmo desejar o fim, nosso
pecado capital foi adoecer o tempo, porque hoje tudo é agora.
VS
Um comentário:
Caralho! Genial isso!!
parabéns.
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