sábado, 5 de novembro de 2016

Uma lenda do baixo

Para Jaco

Os bares não ouviam a sua música. O ouvintes não assobiavam as suas melodias tão órfãs. Sua música não ganhou a eternidade. As gravadoras não sabiam da genialidade desse homem. Feito Cecil, era um incompreendido. Mesmo as vanguardas não o entendiam.
Eu era pouco além de um garoto, louco para ser o Charles Mingus, veja, não um Charles Mingus, o, veja bem, o Charles Mingus. Desde os tempos de banda da escola, eu era o estranho, pois não ouvia aquelas músicas que consumiam a alma e não o contrário, que é o certo. Foi quando, um homem entrou na loja de instrumentos – uma igreja para mim – pois minha mãe pensava que eu morava ou trabalhava lá, nenhum dos dois, eu era um fiel confesso e abnegado daquelas imagens, daquelas esculturas, daquele templo feito de guitarras, gaitas, trombones, saxofones....baixos. Ah! Os baixos, mulheres a ser tocadas e acariciadas, voz rouca e o jazz pouco para traduzir esses encontros. Enfim, lá, um cara e um baixo, contra-baixo, olha o respeito. Mulher grande, seios médios e equilibrados, quadril farto de boa progenitora e mãe dos ritmos que eu sonhava entoar. Ele disse que queria vendê-lo (-la) para mim. Ela parecia feliz. Foi uma pechincha que consumiu a economia de anos e todos viveram felizes entre um acorde e a falta de outro.

VS, ouvindo o pai de todos...Mingus, Mingus, Mingus.

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