sábado, 5 de novembro de 2016

Sobre a morte

Ontem morreu mais um mestre eterno da dramaturgia brasileira, Paulo Autran, segundo a viúva, a atriz Karin Rodrigues, ele manifestou o desejo de ser cremado. Ela completou dizendo que para o ateu Paulo Autran: "A verdadeira crença do Paulo era no ser humano e na arte". Fico às vezes pensando como a morte é ingrata, se como os gregos pensavam, ela for uma entidade, vai ser infeliz nas suas escolhas e equivocada nos seus alvos no raio que a parta, porque tem tantas figuras públicas por aí...vociferando bobagens inoportunas que não mereciam se quer lugar numa mesa de buteco. Daí, fico triste e emocionado por ver gente desse quilate ir embora, ainda que do alto dos seus 85 anos, ele poderia ter ficado um bocadinho mais, feito mais umas peças, visto mais umas belezas na vida, ido a mais alguns museus, talvez fumado mais uns cigarrinhos regados por um bom vinho. Dizem por aí, que grandes homens não são medidos por suas virtudes, mas por seus vícios e pelo número e pela qualidade dos seus amigos. Mesmo à distância, acho ou idealizo que ele foi um grande homem mesmo, desses que se faz em poucas e escassas safras. E é nessas horas que fico injuriado com a morte e digo muitas vezes em alto e claro som: por quê vão os bons e vão ficando essa variedade besta de homens mais afeitos ao presente, ao fugaz, à grana, etc.? Por que os eternos vão embora e nos deixam as boas lembranças, mas como ficamos sem suas atitudes corajosas, sem seu ímpeto, sem seu exemplo? Hoje é um dia triste! Ficam as atuações brilhantes então, além do teatro, sua casa mais encantada e brilhante, para nós que podemos aproveitar pouco desse gênio por causa da pouca idade, fica a imagem da televisão na novela "Guerra dos sexos", ele e a diva Fernanda Montenegro, trocando delicadas ofensas enquanto jogavam um no outro o que tinha à mesa, improviso genial e eterno. Clássico. Isso fica, o resto passa. Obrigado Paulo Autran.

Estéfani, ouvindo uma casa silenciosa num sábado triste, bobo e quente.

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