domingo, 24 de maio de 2015

Fundamental

Numa fila, quatro pessoas esperavam sua hora no supermercado. O último, homem de aparência comum, ainda que as roupas denotassem um esforço grande para parecer respeitável, botões abotoados na totalidade, calça levemente acima da cintura, cabelo bem penteado, em forma, sapato gasto, mas bem cuidado. Quando que vamos ser atendidos, já estou aqui faz dez minutos. Olhares de estranheza e também de apoio surgem até onde os ouvidos podem ouvir. Tenho que ser atendido, ele bradava, talvez agora levemente entusiasmado com a plateia. Uma moça, aparentemente com algum cargo de gerência ou algo similar, aproxima-se e explica que não há razão para tanto, já que a bem da verdade ele estava há menos de 5 minutos na fila. Sou mentiroso agora. É isso! Agora, vocês me ofendem. Nesse país nada vai para frente, ninguém tem educação, ninguém quer ser sério, ninguém é honesto, aliás ninguém sabe o que isso é na verdade nesse país, só deus pode salvar isso aqui, por isso que eu digo para vocês, só deus. Enquanto isso, do apoio fez-se a repulsa. Então, vá embora, uma voz de alguém na multidão ecoava indistinta. É mesmo. Os olhares agora eram de incompreensão, talvez mesmo pena. Outra voz, ser religioso é ser educado, espera a sua vez. Sem chão, sem deus, sem compras, indignado, sai em velocidade da vaga de deficiente que seu carro ocupava.

VS

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