domingo, 25 de setembro de 2016

Sobre o vegetarianismo

Para meu irmão vegetariano e querido.

Numa terra distante, havia um monstro que se alimentava de toda forma de vida. Faminto, sem ter mais o que comer, porque mastigou a vida toda do seu mundo como se dela não fizesse parte, a sobrevivência o empurrou para mais próximo daquele povo pequeno e agitado. As dúvidas faziam-no hesitar, mas o chamamento da carne era implacável. Já podia sentir na boca a porção de vida que se desfaria entre mastigadas. Seu estômago era um abismo escuro e vazio. Cada vez mais governado pela fome ávida, sedicioso, foi aproximando-se e iniciou o ritual imemorial da caça, observou cuidadosamente suas presas, pesou sua velocidade, tamanho e ferocidade, escolheu a primeira refeição, um jovem, estimava ser mais tenra a trama de músculos e mais improvável a capacidade de reação devido à inexperiência. Para tanto, espreitou-se para cada vez mais perto, mais perto, mais perto, mais perto, mais perto... de nós. Podia sentir o cheiro, intuir os pensamentos da presa, ouvir a respiração ritmada e despreocupada. 

Tornou-se vegetariano.

VS

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