sexta-feira, 29 de julho de 2016

Da série - Contos máximos para uma vida mínima - Há marte

Eram dois amantes que se odiavam como tantos outros. Até aí, normal, tudo normal, tudo tolerável como todos os paradoxos humanos devem ser. Num dia desses, entre madrugadas conturbadas por xingamentos e beijos reconciliadores e tensos, finalmente ela disse, amar-te é necessário, mas é preciso que eu me odeie um pouco para isso. Ele, na sua infinita incompatibilidade, entendeu torto a declaração torta. Entendeu mal o início, entendeu como um desesperado, não ouviu o fim, cego estava de amor por ela e de incapacidade com essa língua torta. Entendeu que havia Marte, entendeu, ainda que confuso, que era um fim, um convite para uma viagem sem volta. Mais uma metáfora daquela mulher estudada que falava difícil. Partiu sem falar mais uma palavra ao menos. Ela, não entendeu nada.

VS

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